SP Solo Preto Indígena e Emancipa Axé!

O Emancipa Axé, juntamente com o movimento SP Solo Preto Indígena e diversos terreiros que assinam esse manifesto, estão em defesa de um projeto de combate ao racismo religioso na cidade de São Paulo.

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São Paulo, ao longo desses últimos 470 anos, foi uma das pioneiras naprodução de violência contra os povos indígenas e africanos. No início do século XX, por necessidade de criar uma narrativa que alçasse sua relevância ao nível nacional, acompanhando a importância da economia cafeeira e sua industrialização, criou-se uma narrativa bandeirante que fosse representante da sua história. O herói escolhido na época, símbolo do assassinato das populações indigenas e negras, representava também a própria ideologia da classe dominante. Contudo, em cada encruzilhada da metrópole paulista, caboclos, guias e orixás giravam e encantavam a vida. Lutando nas trincheiras das guerras contra as colônias e armando suas mandingas para assegurar dignidade às suas comunidades, pais e mães de santo garantiram vida para os povos de axé. Os povos de axé são uma construção histórica, cultural e de ações políticas do conjunto de sujeitos e indivíduos, que expressam a vida nas suas diversas formas, acumulando perspectivas étnicas e geográficas que são dinâmicas. O conceito de tradição para nós é importante e está atrelada às origens, mas, nas realidades das comunidades de matrizes indígenas e africanas, são também um espaço movimento/dinâmico de inventar, reinventar seus aspectos originários na dimensão do presente/futuro. No Brasil esses povos tradicionais de matrizes indígenas e africanas vão se configurando a partir da diáspora, da ressignificação das suas existências e da recriação das suas identidades frente ao processo de horror e extermínio de suas vidas e valores civilizatórios. Essas diásporas localizada no processo de colonização, escravização e de tantas outras opressões que desconstruiu a territorialidade e identidade desses povos escravizados, recriou espaços físicos e comunitários que possibilitasse a partir da diversidade cultural negra e indígena aglutinar e estabelecer um modelo social que garantisse uma existência digna das suas subjetividades e suas significações. Esses espaços de resistência e recriação de laços afetivos são chamados de terreiros, unidades de manutenção das formas de vida e sociabilidade de grupos que foram sistematicamente excluídos e marginalizados no processo de constituição do Brasil. Os nossos terreiros são quilombos, são espaços de valorização da cultura afro-brasileira, das culturas indígenas, de preservação da memória, de cultivo de outras possibilidades de sociabilidade, são espaços de produção e auto identificação dos sujeitos na sua luta por emancipação. A macumba nada mais é do que o movimento de Èsù na cidade, que produz riqueza material e imaterial. A macumba está presente em nossas festas e em nossas vidas, do carnaval ao funk, da dança tradicional aos movimentos elaborados vistos no teatro municipal.

Com o advento da Constituição Federal de 1988 poderíamos até pensar que viveríamos em um Estado laico (aquele que não adota uma religião oficial e que não interfere nos assuntos religiosos), pois segundo o art. 5.o, VI, da Constituição Federal “todas as pessoas são iguais perante a lei e é inviolável a liberdade de consciência e de crença dessas pessoas, sendo desta forma assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e sendo garantida a proteção aos locais de culto e a suas liturgias”. Contudo, na prática, sabemos bem que não é o que estamos vivenciando diariamente em nossas comunidades, nas ruas, em lugares públicos e/ou privados, na prática, mesmo, estamos perdendo nossos espaços de axé, sendo esmagados diariamente pelo fundamentalismo religioso neopentecostal que cresce ano após ano, e que consegue graças a seus projetos de poder se infiltrar em todos os espaços, chegando até mesmo a polícia militar (que já é conhecida por ser mortal para o povo preto), bem como se aliando a milícia para expulsarem na base da bíblia e da bala os terreiros, quilombos, aldeias e espaços sagrados das comunidades e periferias, não teve espaço para a macumba no asfalto e agora tampouco lhe sobra espaço nos morros, tamanha é o fundamentalismo religioso nesses lugares e que com a ajuda do tráfico ganhou força bélica. O Estado laico nitidamente não funciona para o povo de terreiro, enquanto os casos de racismo religioso e/ou intolerância religiosa crescem a cada ano, o que só comprova que não temos o direito de vivenciar nossa religião como qualquer outra pessoa, não temos o direito de sair com nossas vestimentas tradicionais sem nos preocupar em levar uma pedrada ou ter nossos espaços invadidos de maneira arbitrária pela política militar, como já assistimos acontecer com outras lideranças religiosas. Na prática, a laicidade só funciona se ao invés de cantar ponto de macumba, se cantar louvor, se no lugar do galo estiver uma bíblia, se no lugar de Èsù estiver um homem branco crucificado. O país laico só existe de fato nos livros e nas igrejas, porque para o povo de terreiro o que res é a marginalização mais uma vez de sua cultura e identidade. Por isso é necessário um levante imediato das comunidades de axé para lutar contra o fundamentalismo religioso que quer nos tirar o direito de existir enquanto pessoa e corpo de terreiro! Na cidade de São Paulo, o projeto de apagamento e ataques aos povos de terreiro segue a pleno vapor, e conta com a força política dos grupos de extrema-direita e conservadores. Esses grupos procuram se perpetuar nos poderes do Estado, e, nas eleições municipais de 2024, se alojam na frente que tenta reeleger Ricardo Nunes, aliado do bolsonarismo. Não permitiremos! Nosso levante contra o fundamentalismo religioso também se dá nas trincheiras da política formal. Não permitiremos que um projeto político que apaga, exclui ou mesmo criminaliza nossos terreiros, nossos quilombos, nossas aldeias se
perpetue.

Esse povo daqui que sempre esteve [e está] reside nas frestas, está nos becos e vielas bem antes das caravelas e hoje, a aldeia-terreiro também é a favela. Terreiro-mundo, com o passo firme – e fundo, ainda avançam no território que é indígena, mesmo antes do fundamento ser assentado o recado já era dado. A resistência indígena é prova de que a colonização só consegue agir por cima da terra, mas terra não finda, a morada dos povos originários é onde a luz não alcança, dentro das árvores, das mudas, dos tubérculos. Tupinambás, Xoklengs, Tikunas, Kariris, Kaingangs, Guaranis, kambiwás, Yanomamis, Maxakalis, Ofaiés, Guatós, Pankararus e tantos povos. São as onças nativas de Pindorama. Suas narrativas são como ramas ardidas e quem pisa sem cuidado dá boa noite à raiz. A vida do povo de floresta está sempre por um triz, cada vez que roubam a voz, a fé e a matriz. A mandinga preta se encontra com a pajelança primeiro nas encruzilhadas das matas fechadas e hoje a história se repete outra vez, nesse tempo, nas encruzilhadas urbanas dos quilombos-cazuás cada vez que se chamam
as donas das terras para trazer feitiço no brado e na palavra cabôka. Kunhambebe, Marçal Tupã-i, Tybyra, Galdino Pataxó, Merongue Kamakã, Emyra Waiãpi deixam suas sementes-voadeiras que ainda lideram seus povos, suas lutas e dessa forma, suas vozes continuam ecoando nos ventos da mudança, mas também ecoam suas maldições a todos os que não reconhecem o etnocídio praticado, que também é semente, mas dos colonialistas e de seus herdeiros. Batemos nosso tambor e chamamos nossos protetores ancestrais. Assim como saímos às ruas para reivindicar nossos direitos. Foram as pessoas racializadas que construíram essa cidade e é aqui que elas devem ficar. Rememoramos também as populações migratórias de outros estados, sobretudo os milhares de nordestinos que migraram para São Paulo como mão-de-obra barata no processo de metropolização. Foram as pessoas nordestinas, salve Zé lá de Alagoas, as principais responsáveis por construir o grande centro expandido. A elite paulistana branca que tenta apagar nossas memórias é a mesma que se apropria de nossas culturas, estas que geram milhões para os cofres da Prefeitura de São Paulo. O projeto de genocídio do povo em curso desde a colonização reconfigura-se por meio das privatizações dos serviços publicos, como da sabesp, e
mais recentimente os cemitérios. Da kalunga se apropriarão e nos expulsaram, Basta! O Estado brasileiro precisa reconhecer que existimos. Partindo de onde estamos porque é aqui que ficaremos: São Paulo é nosso terreiro! Cada corpo oprimido que aqui habita é um território ancestral que por direito reivindicam
reparação.

O terreiro é um equipamento público organizado e mantido pela liderança e comunidade. E mesmo sem fomento do Estado, o terreiro desempenha funções sociais de extrema importância para a população: respeito e inclusão às diversidades; valorização e resgate da identidade ancestral, memória e da cultura dos povos oprimidos; promoção de igualdade racial; estratégias tecnológicas para preservação do meio ambiente; educação; saúde e bem-estar social. O terreiro é um grande espaço comunitário de fortalecimento coletivo. Por isso, os terreiros são construções que transferem para a população saberes e estratégias de como tornar a Cidade de São Paulo mais justa e habitável. Ao passo que tentam apagar nossas memórias, os terreiros narram as histórias dos povos que aqui viveram. E mantém vivos aqueles que aqui vivem. Terreiros são grandes universidades populares e públicas, de saberes e tecnologias circulares e inclusivas. Por justiça a todes, todos e todes habitantes e circulantes de São Paulo, é preciso que a cidade se reconheça como Aldeia e Terreiro.
Tudo o que estamos vivenciando e acompanhando é fruto de um legado escravocrata, burguês e racista, que por anos quis devolver aos tumbeiros uma cultura e ideologia preta, e que a todo custo quiserem se fazer passar por donos de uma terra que muito antes já era habitada. O legado deixado por esses senhores do engenho, se perpetuou, cresceu e de uns anos para cá ganhou um novo nome o “bolsonarismo”, os novos senhores se sentam a mesa do Congresso, das Prefeituras, do Senado e é de lá que emanam as decisões ou omissões quanto aos
povos de terreiros e indígenas, Na Prefeitura e no Governo do Estado de São Paulo estão sentados esses novos senhores do engenho que querem a nossa morte, que querem a polícia invadindo as periferias do Estado de São Paulo..
O que queremos é levantar o povo de axé de toda São Paulo em prol de valorização da nossa cultura, valorização da história indigena, preta e periférica na cidade, proteção integral as nossas comunidades de matrizes indígenas e africanas, respeito e valorização das nossas memórias, cultos, tambores e maracás; e de tudo aquilo que nossos terreiros produzirem. Através de uma educação anti racista, da organização popular e da força ancestral que, como mandingas, plantaram encantamentos e produziram a força vital para nossa existência, não apenas a sobrevivência

Assinam nosso manifesto:

  • Terreiro de Umbanda Alumeia
  • Comunidade da Renovação Ilè Asé Òsógiyán
  • Tenda de Umbanda Cabocla Jaciara e Vovó Inácia
  • Comunidade Ògún Onìré
  • Terreiro de Umbanda Urubatão da Guia
  • Terreiro Ori
  • TUM Mãe Maria e Pai João
  • Tereiro de Umbanda Zeferina de Angola
  • Terreiro Aruanda
  • Casa da Umbanda de Oxóssi
  • ⁠Luana Alves – Vereadora de São Paulo
  • Mandato Estadual das PRETAS
  • Dep Federal Sâmia Bomfim

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UMA INICIATIVA DA VEREADORA LUANA ALVES

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